Capítulo
1
NICOLE
CLAVE
Abri a porta sacada da varanda do meu
quarto e fiquei iluminada pela lua cheia. Envergava umas calças de ganga e uma
camisa de seda branca. Esta era eu: Nicole Clave.
A noite estava calma, sem nuvens no céu
e sem uma única estrela. A aragem do vento era suave, calma e quente – como num
dia de Verão, o que era estranho, pois estávamos no Outono. As árvores estavam
sossegadas. Não se ouvia nenhum ruído vindo da floresta, mas de dentro do
casarão provinha o som da música clássica da festa da Tia Adeline.
Sem eu mandar, uma lágrima escorre pela
minha face. Não a limpei, simplesmente me apoiei no gradeamento da varanda. A
seguir escorreu mais uma, outra e outra. Fechei os olhos ainda com mais força.
- Por favor, por favor … - murmurei para
mim.
De súbdito uma aragem empurrou os meus
cabelos para trás. A porta sacada abre-se outra vez e ouvi uns passos a
caminhar em minha direcção. Dei meia volta e era a única pessoa que eu gostava
dentro daquela casa: um rapaz com vinte e poucos anos, alto, bem constituído,
forte e brilhante. Limpei as lágrimas de imediato e caminho em direcção ao
interior da casa (casa não, casarão), mas ele antecipa-se a agarra o meu
antebraço.
Abri os olhos, estes provavelmente
deviam estar vermelhos de estar a chorar, a maquilhagem já devia estar toda
estragada pelas malditas lágrimas, principalmente á volta dos olhos. Engoli a
seco e falei:
- Eu não suporto aquela mulher! – Mais
uma lágrima saiu pelo olho direito. Já estava a tremer e sem forças. Apesar de
não gostar de estar a chorar á frente da pessoa que mais admirava, não me
conseguia conter e acabei por deixar as outras lágrimas sair.
Ele ao ver o meu estado abraçou-me,
fazendo-me festas na cabeça.
- Já passou. – Acalmava ele e até que
resultava. Aquela voz doce e meiga acalmava tudo e todos, até parecia acalmar
uma pantera em fúria! (Apesar de nunca se ter experimentado!).
Eu adorava o Mateus, era assim o seu
nome. Para mim, ele sempre fora mais que um simples amigo, fora um irmão. Apesar
de ele ser giro, acho que nunca me apaixonaria por ele – e não estou a mentir
quanto à parte do “giro”. É mesmo: tem o cabelo escadeado, loiro e seus olhos
são da cor da relva fresquinha, acabada de ser regada, verdes, com um toque
especial. Eu para ele também era como uma irmã, a sua “irmãzinha”.
- Ela humilhou-me! Está constantemente a
fazê-lo! Só queria desaparecer daqui e ir para um sítio bem longe, onde
existisse algo de jeito para fazer e alguém que me desse valor, não como os
dias que eu passo a ouvir aquela vozinha irritante! – Estava a referir-me à
maléfica da minha tutora. Eu realmente odiava aquela mulher. Tinha organizado
uma festa clássica e humilhou-me em frente de todos os convidados e todos eles
se riram de mim, à excepção de Mateus. E o que mais me irritava era aquela
vozinha feminina super, mas mesmo super fina. Se passassem um dia com ela, não
aguentariam 5 minutos e as “amigas” dela eram todas iguais e umas
interesseiras! Ela era a minha única família naquele momento, mesmo que não
quisesse, era obrigada a gostar dela. Era a minha tia de 3º Grau, do lado do
meu pai. Tia Adeline, mas eu não tinha ordem de trata-la por “tia”, mas sim por
“senhora”, “Senhora Adeline”. Só de ouvir aquele nome, me dava dores de cabeça.
- Não devias dizer essas coisas. –
Despertou-me Mateus, trazendo-me de volta ao planeta Terra. – Por mais que não
gostes dela, ela é tua tia. E além disso, o que é que eu faria se tu sumisses
de repente? – Pergunta, mas com um certo nervosismo.
- Arranjavas uma namorada! – Respondi
sem hesitar. – Passas demasiado tempo comigo! Eu já não sou uma criança, tenho
16 anos, sei muito bem cuidar de mim! Assim, se tivesses mais tempo podias
arranjar uma rapariga da tua idade!
Ele largou-me, mas continuava a
agarrar-me nas mãos e franziu o sobrolho.
- Então, tu gostarias mesmo de ir
embora?
- De certo modo … - Começava a perceber
que estava algo de errado,
Ele fecha os olhos por um momento e
respirou fundo, bastante fundo.
- Nicole Clave … - Respirou fundo mais
uma vez antes de continuar. – Serás sempre a minha irmãzinha, não importa para
onde vás, não importa o quanto longe estiveres de mim, percebes-te? – Falava
com os olhos cheios de orgulho.
Não estava a entender o porquê daquela
conversa. Já havíamos falado em eu fugir da Tia Adeline, mas nunca fora nada
sério. A minha cabeça parecia andar às voltas.
- Porquê isto agora?
- Anda. – E puxou-me para fora do
casarão, onde, ao pé do portão de encontrava um táxi, a minha tia e uma das
suas amiguinhas. Ambas tinham um vestido idêntico, onde a única coisa que
diferenciava de um para o outro era a cor: o da minha tia era vermelho,
enquanto o da sua amiga era branco.
Eu olhava muito séria para a Tia
Adeline, que esta estava com um sorriso constrangedor, juntamente com a sua
amiguinha, ue não parava de mexer no cabelo branco e curto. Olhei para Mateus,
que parecia ainda mais nervoso do que 5 minutos antes, mas não o podia culpar,
a Tia Adeline assustava qualquer um só com aquele olhar de bruxa! E ainda por
cima, agora estava com um sorriso estampado na cara cheia de rugas, o que a
tornava ainda mais assustadora. Quem olhasse para ela, mesmo naquele momento, e
que não a conhecesse, dizia que era mesmo uma Bruxa – quero dizer, ela todos os
dias parecia uma, mas naquela noite, se fosse o Dia das Bruxas, ela ganhava o
primeiro prémio.
Mateus virou-se para mim e falou:
- Vai correr tudo bem, sim? Eu não
poderei ir, pois arranjei trabalho fora. E a tua tia decidiu aceitar a proposta
que lhe fizeram a semana passada. Além disso, estarás mais segura lá do que
aqui.
Abraçou-me com os olhos vermelhos, quase
a chorar. Nem queria acreditar que ia separar-me dele. Estava tão habituada a
ter o Mateus ao meu lado que não conseguia imaginar-me sem ele.
Já sentia a aura maléfica da Tia
Adeline.
Larguei o Mateuse caminhei para o táxi.
Abri a porta e antes de entrar a Tia Adeline falou:
- Ele tem razão: estarás melhor lá do
que aqui. Adeus, minha querida. – Aquela voz era mesmo irritante.
- Adeus … - Falo. - … Mateus. – A Tia
Adelina ao ver que o “Adeus” não era para ela, desfez imediatamente o seu
sorriso.
Acabei por entrar no táxi, fechar a
porta, sempre a olhar para o meu “irmão”.
O carro começou a andar.
De vez em quando olhava para o
conta-quilómetros e via que íamos sempre a 80 Km/h. Não consegui descobrir
muito vindo do taxista, excepto o seu nome, Joe. Não fazia a mínima ideia por
onde me levava. Não conseguia parar de pensar nisso: o local que me esperava.
Pensava no meu próximo lar, seria um orfanato? Um hotel? Uma casa de pessoas
simpáticas? Ou uma casa de pessoas antipáticas? Seriam os meus novos tutores
ricos ou pobres? Bonitos ou feios? Cruzava os dedos para que os meus novos
tutores fossem melhores do que a Tia Adeline e se fosse possível ter uma voz
mais grossa que ela!
Quando olhava pela janela não via grande
coisa. Via árvores e mais árvores, mas apesar de parecer que estava no meio da
floresta, a estrada era lisa como aquelas das auto-estradas. Não dava para ver
o céu, pois as árvores eram demasiado altas, para já não falar nos seus ramos!
Estes davam para dormir em cima deles.
Já estava a ficar com bastante sono, por
mais que esforça-se para manter acordada, não consegui. Até que acabei por
adormecer ao som da música – esta era bastante calma, quero dizer, ao nível do
volume que estava, a música parecia calma. Até que por momentos me apercebi
qual era: Love Story da Taylor Swith,
até que a música nem era feia! Já a tinha ouvido antes, falava de Romeu e Julieta e da história de amor entre eles os dois. Esforçava-me para
tentar, pelo menos, acabar de ouvi-la, mas acabei por adormecer antes.
Kakoi *-* a história está bem legal, adoro sua escrita =3, escreves juito bem, gostei do Mateus ^^
ResponderEliminarkisses